Qual o papel de Israel?

 

O ressurgimento do Estado Judeu à luz das Escrituras

 

MIDEAST ISRAEL JEWISH SUN BLESSING

 

Pr. Eguinaldo Helio dos Santos

 

Qual o papel de Israel? Esta é a pergunta relevante na questão que envolve o povo judeu

Existem os que afirmam que Israel desempenhou apenas o papel de um instrumento provisório no cumprimento dos propósitos de Deus. Ao rejeitar Jesus como o Messias esperado, Israel teria deixado de ser o povo separado e escolhido por Deus. Segundo esta perspectiva, só resta aos judeus converter-se e integrar-se à igreja para permanecer dentro do plano da salvação de Deus. Ainda segundo esta visão, a Igreja seria agora o “Israel de Deus”, herdando as promessas do Velho Testamento que foram dirigidas ao povo judeu, que já não desfrutaria de nenhum privilégio ou distinção em relação aos demais povos da terra.

No outro extremo estão aqueles que defendem que a aliança de Deus com Israel é incondicional. Dentre todas as nações da terra, Israel permaneceria ocupando um lugar único, o que se tornaria gradativamente mais evidente até que venha, no futuro, a ocupar o lugar de primazia conferido por Deus.

Os judeus viveram por cerca de dois mil anos dispersos entre as nações. Somente em 1948 essa situação veio a se modificar, com o estabelecimento de Israel como uma nação de fato, em um território independente. A perseguição sofrida ao longo de todo o período de dispersão não foi capaz de aniquilar o povo judeu. Israel renasceu! Os acontecimentos que culminaram com essa realidade histórica não podem ser objeto de especulações teológicas; devem e precisam ser analisados à luz das Escrituras.

 

DEFINIÇÕES

A descendência de Abraão é conhecida sob três denominações diferentes:

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Hebreus, possivelmente porque Abraão foi descendente de Éber (Gênesis 11:14-27); israelitas, que deriva de Israel, o nome recebido pelo patriarca Jacó após o seu encontro com Deus no vau de Jaboque (Gênesis 32:27, 28), e, por último, judeu, relativo a Judá, um dos doze filhos de Jacó, a quem foi prometido o cetro do reino (Gênesis 49:10). Esses três nomes designam um só povo. Paulo usou, em relação a si próprio, as três formas (Filipenses 3:5; Romanos 11:1; I Coríntios 9:20).

Israel é o povo peculiar de Deus, com o qual Ele estabeleceu um pacto através de Abraão (Gêneses 15 e 17), prometendo dar-lhe a terra de Canaã e abençoar através dele todos os povos da terra (Gênesis 12:1-3). Essa eleição tinha como propósito fazer de Israel um instrumento para levar a Sua salvação por todos os cantos da terra. As Sagradas Escrituras foram primeiramente confiadas a esse povo (Romanos 3:2). Também sobre eles recaíram em primeiro lugar a adoção de filhos, as manifestações da glória de Deus, as alianças, a lei divina, o culto e as promessas (Romanos 9:4). O privilégio de ser o povo do qual surgiria o Messias, o Ungido, também coube a Israel (Romanos 9:5). Sendo assim, essa nação sempre foi objeto do cuidado constante de Deus. É imperativo estudar e entender o Seu plano para eles.

 

 

ISRAEL, CRISTIANISMO E AS TEOLOGIAS

Os judeus foram colocados à margem do Cristianismo num processo lento que levou séculos para se consumar. No Concílio de “Nicéia” foi ditado o credo cristão que, dentre outros pontos, endossava a idéia da substituição de Israel pela Igreja, tendo Roma como centro e cortando os vínculos com Jerusalém. Enquanto os gentios estiveram em minoria foram perseguidos pelos judeus; quando passaram a ser maioria, começaram a perseguí-los.

Marcião, um dos maiores propagadores de uma heresia chamada de gnosticismo, era um antissemita declarado. Ele pregava que todo cristão que tivesse um nome judeu, usasse algum símbolo ou participasse de qualquer celebração judaica, deveria ser considerado como cúmplice na morte de Cristo. No cânon criado por ele, um dos critérios era a inexistência de qualquer coisa que favorecesse aos judeus. Em vão Tertuliano se opôs, tentando evitar que a igreja perdesse suas raízes judaicas. No final do século IV, o Bispo de Antioquia, João Crisóstomo, escreveu uma série de oito sermões contra o povo judeu. Ele tinha visto cristãos orando como os judeus, observando as festas bíblicas judaicas. Suas duras críticas foram excessivamente severas. Em suas palavras, as sinagogas eram “zonas de meretrício e teatro, cheias de ladrões e bestas selvagens.” Crisóstomo afirmava que os judeus eram culpados pela morte de Cristo. A acusação de deicidas os acompanharia dali em diante.

Este é um pequeno trecho da profissão de fé da Igreja de Constantinopla, que judeus ou cristãos deveriam fazer:

 

Renuncio a todos os costumes, ritos, legalismos, pão ázimo e sacrifícios de cordeiros dos hebreus, e a todas as demais celebrações hebraicas, preces, aspersões, purificações, santificações, jejuns, luas novas, shabats, …hinos, cantos,… abstinência de alimentos e bebidas dos hebreus; numa palavra renuncio tudo que é judaico, absolutamente tudo, a todas as leis, ritos e costumes… e se mais tarde quiser renegar e voltar à superstição judaica, ou for surpreendido fazendo uma refeição com os judeus, ou celebrando suas festas, ou conversando secretamente e condenando a religião cristã em vez de rejeitá- los abertamente e condenar sua fé vazia, que o tremor de Caim e a lepra de Geazi se apoderem de mim, assim como os castigos legais a que me reconheço sujeito. E que eu seja um anátema no mundo que há de vir, e que satanás e os demônios se apoderem de minha alma.

 

Isto dá uma idéia clara do sentimento do Cristianismo para com os judeus. Como uma criança que após crescer destrói seu berço, assim o Cristianismo, ao assumir a maioridade, passou a hostilizar toda a sua herança judaica. Não apenas rejeitando-a, mas também amaldiçoando-a completamente.

A história da Igreja é pontuada por ações que de algum modo prejudicaram o povo judeu, quando não de forma direta, pelo menos indiretamente. As leis canônicas lhe atribuíram uma posição social de inferioridade. As cruzadas, que tinham por alvo o povo muçulmano e a cidade de Jerusalém, muitas vezes massacraram comunidades judaicas inteiras. A Inquisição, cujo objetivo de início era combater valdenses e albigenses, chegou ao seu apogeu ao perseguir os cristãos-novos, ou seja, judeus que pelo uso da força tinham se convertido ao catolicismo e que, supostamente, praticavam secretamente o judaísmo. Na península Ibérica eles foram duramente perseguidos pelos reis espanhóis Fernando e Isabela de Castela, cognominados os reis católicos.

 

O PROTESTANTISMO E OS JUDEUS

Nem mesmo o protestantismo fez surgir uma nova mentalidade em relação aos judeus. A princípio Martinho Lutero até se mostrou simpático para com eles, acreditando que abraçariam a Reforma ao conhecerem os verdadeiros fundamentos do Cristianismo. Em 1523, seis anos após o início do movimento reformista, Lutero escreveu um tratado denominado “Jesus nasceu judeu”, no qual acusava os papas de terem afastado os judeus do bom caminho. Entretanto, a recusa dos judeus em se converterem, levou Lutero a publicar um livro de 200 páginas cujo título era “Contra os judeus e suas mentiras”, no qual os atacava. Eis um trecho desse livro:

 

Seria preciso, para fazer desaparecer essa doutrina de blasfêmia, atear fogo em todas as suas sinagogas e se delas restasse alguma coisa após o incêndio, recobri-las de areia e de lama a fim de que não se pudesse mais ver a menor telha e a menor pedra de seus templos (…) Que se proíbam os judeus entre nós e em nosso solo, sob pena de morte, de louvar a Deus, de orar, de ensinar, de cantar.

 

Quatrocentos anos mais tarde esse livro seria reeditado por ninguém menos do que Adolf Hitler para ser usado como instrumento ideológico contra os judeus.

 

Pr. Eguinaldo Helio dos Santos é professor de Teologia no Seminário Vale da Bênção

Reproduzido com permissão do livro Israel, Povo Escolhido 

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