Conhecer a história do povo judeu, tanto a bíblica quanto a pós-bíblica, permite uma compreensão muito melhor das Escrituras
Pr. Eguinaldo Hélio de Souza
Desde o capítulo doze do livro de Gênesis até pelo menos o fim do livro de Atos o que temos é a história do povo judeu. Mesmo nas epístolas, paulinas ou gerais, temos inúmeras menções do povo judeu. A epístola de Tiago é dirigida às doze tribos na dispersão (Tiago 1.1), um fato destacado da história judaica. O penúltimo livro do Novo Testamento, Judas, contém referências à história judaica, bíblica e extra bíblica. E o Apocalipse faz referências à essa mesma história.
Dessa forma, de ponta a ponta, é impossível desvincular a história do povo judeu das Escrituras Sagradas. Seria o mesmo que retirar as colunas de um edifício. Ele não se sustentaria.
[private]Os livros bíblicos não nasceram em um vácuo. As revelações divinas não foram dadas em um contexto a-histórico, não são fruto de indivíduos isolados de seu meio ou que se esforçavam para negar a realidade ao seu redor. Os autores bíblicos não foram apátridas errantes pelo mundo. Eles se identificavam inteiramente com uma etnia específica e com os acontecimentos ligados a esse povo. Então, lhe disseram [a Jonas]: Declara-nos tu, agora, por que razão nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? E donde vens? Qual é a tua terra? E de que povo és tu? E ele lhes disse: Eu sou hebreu e temo ao SENHOR, o Deus do céu, que fez o mar e a terra seca. (Jonas 1.8, 9).
Hoje se fala em homens universais, que não pertencem a um povo específico, mas que poeticamente se diz que pertencem “a todos os povos e a todas as épocas”. Não foi assim com os profetas hebreus e com os autores bíblicos de modo geral. Eles tinham orgulho de pertencer ao povo que pertenciam. Sou hebreu de hebreus bradou o apóstolo Paulo (Filipenses 3.5).
E ele, mais do que ninguém, reconhecia a conexão inquebrável entre as Escrituras Sagradas e o povo judeu:
Qual é, logo, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas. (Romanos 3.1, 2).
E mais do que isso. Esses livros sagrados não surgiram todos de uma vez como produtos de uma única mente humana (embora sejam produto da Mente Divina). Eles surgem em tempos específicos ou contam história de tempos específicos. A história dos patriarcas ocorre em tempos longínquos quando os cananeus habitavam a terra. Depois vem o período do deserto, o período da conquista da terra. Então o período dos juízes e dos reis, quanto também a poesia e a profecias hebraica se consolidam.
Então vem o Novo Testamento com os judeus sob o jugo romano e parte de Israel na diáspora. Todos esses acontecimentos vão produzindo a literatura divina. Sim, e essa literatura divina, ao mesmo tempo que se identifica com seu contexto geográfico e histórico o transcende, vai além dele sem negá-lo. Faz da história de Israel e síntese da história universal. Não é a toa que a ideia de história como a concebemos hoje é fruto da visão israelita da história. (KAHLER, Erich. Que és la historia? México: Fondo de Cultura Econômica, 1966.)
Dessa forma, conhecer a história do povo judeu como um todo, tanto a bíblica quanto a extra bíblica, tanto a bíblica quanto a pós-bíblica, permitem uma compreensão muito melhor das Escrituras. Pois estas, apesar de seus valores espirituais e transcendentes, liga-se a este mundo por meio da história de Israel, de modo que o conhecimento de uma é impossível sem a outra.
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